A petroleira OGX, do empresário Eike Batista, informou ontem que negocia parcerias para os blocos
que arrematou sozinha na 11ª Rodada de Petróleo. O anúncio foi feito semanas antes do prazo final para a
confirmação, na Agência Nacional do Petróleo (ANP), das garantias oferecidas pela OGX para a aquisição
dos blocos no leilão.
Pelo cronograma da 11ª Rodada, em maio, as empresas precisam depositar em agosto o bônus pago pelos
blocos arrematados no leilão. Isso significa que a OGX teria que dispor de mais de R$ 370 milhões para quitar
as áreas arrematadas. A petroleira adquiriu dez blocos sozinha, com investimento mínimo previsto na fase de
exploração de R$ 2,6 bilhões.
A companhia está trabalhando na solução para garantir o programa exploratório mínimo dos blocos arrematados na 11ª Rodada da Agência Nacional do Petróleo. A companhia acredita ter condições de apresentar essas garantias para a ANP tempestivamente, afirmou a petroleira em esclarecimento enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
A empresa afirmou ainda que como é prática na indústria do petróleo, negocia parcerias para os blocos que arrematou sozinha na 11ª Rodada, mas destacou que, até o momento, não existe qualquer negócio fechado que deva ser divulgado ao mercado.
Na semana passada, a OGX informou a inviabilidade comercial de quatro campos de petróleo, inclusive o
único em produção, o de Tubarão Azul. A mudança resultou num forte movimento de venda de ações e no
rebaixamento da nota da empresa pelas agências de classificação de risco.
Relatório divulgado pela Moody’s estima que BNDES e Caixa Econômica Federal têm, juntos, 55% dos
empréstimos do grupo EBX. As operações contratadas junto a grandes bancos somariam R$ 11 bilhões, de
acordo com a análise da Moody’s com base nas informações divulgadas pelas empresas X, letra com a qual o empresário Eike Batista batiza seus negócios.
Segundo a Moody’s, a notícia é negativa sob a ótica do crédito para os bancos com maior exposição ao grupo, por conta da interligação entre os negócios. Segundo a agência, isto significaria que problemas numa companhia poderiam se espalhar para outras.
Ceres Lisboa, analista que assina o relatório, disse ao GLOBO que o cenário pode levar os bancos a apresentar maiores provisões para créditos duvidosos na divulgação dos balanços do segundo trimestre. Os bancos públicos não são os únicos listados no relatório. De acordo com a Moody’s, Itaú e Bradesco têm exposição administrável ao grupo. Outras instituições, como BNDES, Caixa, Citibank, BTG Pactual e ABC Brasil podem registrar perdas consideráveis caso o processo de reestruturação do grupo não seja bemsucedido.
Procurados pelo GLOBO, os bancos preferiram não comentar o relatório. A exceção foi o ABC Brasil, que disse que o empréstimo do grupo já foi pago. Na semana passada, o BNDES divulgou nota informando que as operações do grupo somam R$ 10,4 bilhões.
Como os empréstimos são feitos em etapas e contam com garantias bancárias, eles não representam a exposição do banco ao grupo EBX.
No texto, a analista ressalta que os cálculos foram feitos a partir das informações divulgadas ao mercado. O
relatório ressalta ainda que num cenário de manifestações populares será mais difícil para o grupo obter algum tipo de auxílio por meio do BNDES ou de qualquer outro banco público.
Enquanto seguem em curso iniciativas para reestruturar as empresas, parte dos minoritários se organizou
numa associação, a Unax, a fim de estudar medidas judiciais e administrativas para defender os interesses
dos acionistas.
– Pedir bloqueio de bens é uma hipótese que precisa ser aventada – disse o advogado Adriano Mezzomo, porta-voz do grupo.
Na Bolsa, num pregão esvaziado pelo feriado hoje da Revolução Constitucionalista em São Paulo, o Ibovespa
fechou em baixa de 0,30%, aos 45.075 pontos e volume negociado de R$ 4,9 bilhões, bem abaixo da média diária de R$ 8 bilhões. O dólar também teve poucos negócios e fechou estável, em R$ 2,259. (Daniel Haidar
e João Sorima Neto)