Desde que virou o instrumento para a cooptação de novos negócios do grupo Odebrecht, há cinco anos, a Odebrecht Investimentos em Infraestruturas (OII) já tem sob seu chapéu 13 sociedades de propósitos específicos, responsáveis por investimentos da ordem de R$ 26 bilhões. Projetos como o da hidrelétrica de Santo Antônio, a rodovia Dom Pedro e a compra da Embraport estão hoje sob administração da OII, comandada por Felipe Jens, presidente da empresa de investimentos do grupo.
Jens tem hoje ainda sob seus cuidados a responsabilidade de avaliar projetos que vão requerer investimentos totais da ordem de R$ 64 bilhões. Entre eles está o projeto de Belo Monte e o trem bala. Os investimentos totais não devem ser todos feitos pela Odebrecht, que entra em parceria na maioria dos projetos, mas o volume de recursos que a empresa precisa aplicar é bastante expressivo e é por esse motivo que Jens se tornou um dos principais interlocutores do grupo na busca de condições de financiamento que permitam a expansão do grupo, sem comprometer o balanço da empresa. É assim que a Odebrecht lançou a ideia de que o Tesouro Nacional assuma os riscos não gerenciáveis pelas empresas do que chama de projetos de Estado, permitindo que o BNDES financie as obras sem que esses riscos sejam assumidos pelas empresas. A ideia é que esse novo modelo já seja adotado em Belo Monte.
O setor de energia, inclusive, é um dos principais alvos da OII. Hoje a usina de Santo Antônio representa 52% dos investimentos da OII. Além de Belo Monte, a empresa já visa projetos como o de Tapajós e Teles Pires e não descarta a possibilidade de investimentos em usinas termelétricas. Temos conhecimento para montar termelétricas, mas nesse caso uma associação seria importante, diz Jens. Já no caso de hidrelétricas a empresa acredita que tenha desenvolvido uma expertise e possui planos de avançar no setor mesmo que não tenha sócios geradores de energia. A ideia é que futuramente seja criada uma empresa de energia dentro do grupo, a exemplo do que tem feito em outras áreas como a de saneamento. Saindo do guarda-chuva da OII. A OII funciona como uma incubadora de negócios.
Um dos principais objetivos de usar essa estrutura é também o de internacionalizar o grupo, inicialmente por meio dos mercados do Peru, Argentina e América Central. A empresa já administra hoje concessionárias de rodovias no Peru e no Panamá.
Tradicionalmente uma empresa construtora, a diversificação da Odebrecht no setor de infraestrutura tem por objetivo aproveitar as sinergias que se pode ter sendo ao mesmo tempo construtora e investidora dos projetos que constrói. As novas investidas são uma volta no que a empresa já tentou fazer no passado. Ela foi sócia da CCR, por exemplo, uma das principais concessionárias de rodovias do país. Já teve negócios na área de papel e celulose também. Mas com a crise de 2002, como estava alavancada, tomo por decisão estratégica sair desses negócios. Nos anos de 2003 e 2004 tomamos a decisão de retomar esse tipo de investimento, mas de forma mais organizada, diz Jens. Uma das lições que tiramos é a importância do uso de projetos de financiamento.
Isso explica a pressão sobre o governo para que os projetos de financiamento durante a fase de construção tenham normas mais flexíveis de exigência de garantias. Foi o que o governo espanhol fez ao fortalecer suas empresas por meio desse tipo de incentivo e hoje as empresas espanholas se tornaram grandes grupos internacionais, diz Jens.