Estratégia de fatiamento inclui mais fornecedores, reduz preços e fortalece cadeias locais. Previsão é receber propostas até dezembro

A Petrobras decidiu repartir em 11 licitações as encomendas para obras da Unidade de Fertilizantes Nitrogenados (UFN-III), localizada em Três Lagoas (MS). A previsão é receber as propostas até dezembro, informou a companhia à Brasil Energia.
O fatiamento permite a inclusão de mais fornecedores; o que aumenta a concorrência, baixa preços e facilita a estratégia da Petrobras de incentivo a cadeias produtivas locais.
As licitações foram divididas em lotes para os seguintes serviços e entregas: Drenagem, Pavimentação e RACI; Prédios administrativos, Laboratórios, Oficinas; Seccionamento LT 138kV e SE de Entrada; Interligações; Águas e Efluentes; Energia; Amônia e Estocagem; Ureia Melt e Granulação; Estocagem e Expedição de Ureia; Sistema de Manuseio de Ureia e Pacote de Automação.
O Conselho de Administração da Petrobras aprovou em outubro do ano passado a retomada da implantação da UFN-III depois que uma reavaliação confirmou sua viabilidade econômica. O investimento estimado pela Petrobras na ocasião da aprovação com a inclusão no plano de negócio é de cerca de R$ 3,5 bilhões.
A unidade estava hibernada desde 2015 e o processo de reavaliação do projeto começou em 2023, em função da aprovação do retorno da companhia ao segmento de fertilizantes, em linha com as diretrizes estratégicas aprovadas no plano estratégico.
Segurança alimentar
“Estamos falando de segurança alimentar, ficar na mão de potências estrangeiras para produzir alimentos não dá. O Brasil importa 85% do consumo e neste nicho de nitrogenados são 100% importados, as 8 milhões de toneladas de ureia que consumimos”, afirma o diretor-executivo de Processos Industriais e Produtos da Petrobras, William França.
A planta garantirá 15% do consumo nacional. Essa parcela, somada as de outras plantas nas quais a Petrobras está investindo devem responder por pelo menos um terço do consumo do País.
A amônia é matéria-prima de fertilizantes e petroquímicos, além de outros produtos agropecuários; e a ureia é o fertilizante nitrogenado mais utilizado no Brasil. O milho é a principal cultura para demanda de ureia fertilizante no Brasil, mas o produto também é utilizado no cultivo de cana-de-açúcar, café, trigo e algodão, entre outros.
A ureia também será destinada ao segmento da pecuária, utilizada como complemento alimentar para animais ruminantes.
O projeto prevê produção anual de cerca de 1,2 milhão de toneladas de ureia e 70 mil de toneladas de amônia.
A previsão de início de operação em 2028 com obras começando em 2026 e duração de dois anos.
A unidade está próxima dos principais mercados consumidores destes produtos e atenderá majoritariamente os estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Paraná e São Paulo. A localização estratégica garante facilidade nos contratos de venda e mais confiabilidade em relação às alternativas de suprimento deste mercado.
Regionalização de atividades
O projeto se enquadra na estratégia de regionalização das atividades da Petrobras, baseada em cadeias produtivas e unidades operacionais locais.
A base de fornecedores até o final do ano passado já havia sido expandida em quase 30% depois da implementação de licitações menores. Na ocasião, a presidente Magda Chambriard disse em entrevista à Brasil Energia que o novo modelo aumentou a concorrência, baixou preços a concorrência e tornou a empresa mais inclusiva
A empresa, por meio do programa Autonomia e Renda, vem investindo em capacitação profissional com objetivo de ampliar as oportunidades no setor para moradores de localidades próximas às suas operações. O Planejamento Estratégico 25-29 prevê a geração e a sustentação de 315 mil empregos diretos e indiretos no Brasil nos próximos 5 anos.
Venda cancelada para os russos
As obras da fábrica de fertilizantes no Mato Grosso do Sul começaram em 2011 e foram paralisadas três anos depois com o rompimento do contrato com o consórcio que havia vencido a licitação para a construção. Em 2017, na gestão do governo Temer, a estatal anunciou que venderia a UFN 3 e outras unidades de fertilizantes, deixando para trás o segmento.
A venda fazia parte de um pacote desinvestimentos que culminou na privatização de vários outros ativos da estatal, entre sua rede de postos de distribuição e refinarias.
Em 2018, a Petrobras informou ao mercado o início de negociações com o grupo russo Acron para a venda da UFN3. Mas em abril de 2022 a Petrobras interrompeu as negociações, informando que não foi concluído o processo de venda “tendo em vista que o plano de negócios proposto pelo potencial comprador, em substituição ao projeto original, impossibilitou determinadas aprovações governamentais que eram necessárias para a continuidade da transação”.
De acordo com o governo do MS, a Petrobras considerou também as avaliações do governo do Estado para tomar decisão com a Acron. O secretário de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação, Jaime Verruck disse na ocasião que o governo não aprovou o plano de negócios da empresa para a fábrica, “pois não atendia aos anseios da política industrial de Mato Grosso do Sul e aos anseios da política industrial brasileira”.
Durante as tratativas com o grupo Acron, o governo do MS solicitou que fosse feita uma reavaliação do plano de negócios da empresa, o que não aconteceu.
Com a interrupção nas negociações, a ideia em 2022, ainda no governo Bolsonaro, era iniciar negociações de venda com outros grupos. Mas a mudança de governo, com a vitória de Lula para o mandato a partir de 2023, levou a Petrobras ao retorno do segmento de fertilizantes, como era originalmente.
Fonte: Revista Brasil Energia