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Clippings - 11/08/09

Petrolíferas chinesas fazem oferta de US$ 17 bi pela YPF

A Corporação Nacional de Petróleo da China e a Cnooc Ltd. ofereceram US$ 17 bilhões pela participação da Repsol YPF SA em sua divisão argentina, a YPF, disseram duas pessoas a par das negociações.

O possível acordo, que pode vir a se tornar o maior investimento de empresas chinesas no exterior, ressalta o apetite crescente do país por recursos energéticos e sua disposição para oferecer somas vultosas pelo acesso a eles. Também revela a ambição da CNPC de estabelecer sua presença na América do Sul e em outros lugares.

Um acordo seria mais um exemplo de como as empresas chinesas estão colaborando para comprar ativos petrolíferos estrangeiros, depois de anos operando independentemente.

Mas a potencial aquisição enfrenta obstáculos significativos. Um negócio desses seria politicamente delicado na Argentina, onde a YPF é a maior do país em exploração e produção e também em refino e distribuição de petróleo.

Podem surgir objeções se ganhar força a ideia de que a CNPC, maior petrolífera estatal da China, e a Cnooc, maior produtora do país de petróleo e gás em plataformas marítimas, passarão a ter poder demais sobre a oferta e o preço de recursos naturais estratégicos da Argentina.

O governo argentino não tem participação na YPF, mas tem o direito de vetar decisões importantes como uma transferência de controle desse porte.

O Ministério do Planejamento da Argentina, que supervisiona o setor energético do país, não respondeu imediatamente a pedidos de entrevista.

Uma das pessoas a par das negociações disse que a CNPC acredita que conseguirá resolver quaisquer obstáculos de cunho político ou do público consumidor que surgirem no caminho do acordo.

Enquanto isso, a Espanha pode discordar da venda de ativos importantes da Repsol, a maior petrolífera do país, à China. Não foi possível entrar em contato com o Ministério das Minas e Energia da Espanha para obter um comentário.

O lado chinês discutiu a oferta com dois executivos da Repsol numa reunião noturna de duas horas e meia na Europa em 30 de julho, segundo um documento ao qual a agência Dow Jones Newswires teve acesso.

Um porta-voz da Repsol negou ontem que a empresa tenha se reunido em 30 de julho com a CNPC e a Cnooc, e disse que a empresa não iria comentar nada além disso. Antes, outro porta-voz da Repsol tinha dito que a empresa recebeu manifestações de interesse pela YPF, mas nenhuma oferta firme. Ele não quis especificar quem é o interessado.

O progresso nas negociações do acordo tem sido lento e ainda não foi apresentada uma oferta formal, disseram pessoas a par das discussões entre a Repsol e as empresas chinesas.

As multinacionais chinesas têm abocanhado ativos petrolíferos e outros recursos naturais recentemente, à medida que o país tenta garantir seu suprimento energético.

Há anos que a China tenta garantir recursos naturais no exterior devido ao déficit energético crescente do país. A Corporação Petroquímica da China, petrolífera estatal chinesa também conhecida como Sinopec, comprou em junho a suíça Addax Petroleum Corp. por US$ 7,2 bilhões. Em abril a CNPC comprou a petrolífera MangistauMunaiGas, do Cazaquistão, em conjunto com a estatal cazaque KazMunaiGas, por US$ 3,3 bilhões.

As petrolíferas estatais chinesas também estão cooperando mais estreitamente que no passado para fechar acordos no exterior. Este ano a Sinopec e a Cnooc se uniram para comprar ativos de petróleo e de gás natural em Angola e no Caribe. Em julho elas aceitaram comprar em conjunto, por US$ 1,3 bilhão, uma fatia de 20% num bloco petrolífero em Angola que pertencia à americana Marathon Oil Corp.

As petrolíferas chinesas também já fecharam acordos com a Rússia e o Brasil para conceder empréstimos em troca de petróleo.

Mas nem todos os esforços chineses para adquirir ativos foram bem-sucedidos. Em junho, uma oferta de US$ 19,5 bilhões da Corporação de Alumínio da China, ou Chinalco, para aumentar sua participação na gigante anglo-australiana da mineração Rio Tinto foi por água abaixo devido a objeções políticas e dos acionistas. Uma tentativa que deu certo em 2008, quando a Chinalco pagou US$ 14 bilhões por uma fatia de 9% na Rio Tinto, continua a ser o maior investimento da China em recursos naturais no exterior.

A Repsol vem tentando vender seus 84% da YPF para fazer caixa e pagar dívidas. Em 30 de julho, a petrolífera espanhola informou que o lucro ajustado do segundo trimestre caíra 62%, para 265 milhões de euros (US$ 375,5 milhões), em relação a um ano antes e atribuiu o resultado às margens muito menores no refino e à baixa cotação do petróleo. Ela informou também que tinha 10,41 bilhões de euros em dívidas no fim do segundo trimestre.

Em 2007, a Repsol vendeu 14,9% da YPF para o Grupo Petersen, da Argentina, por US$ 2,24 bilhões. O restante está nas mãos de minoritários. O acordo de 2007 inclui uma opção de compra para que o Petersen, que pertence à família Eskenazi, adquira outros 10% da YPF antes de 2012, se assim quiser. O investimento do Grupo Petersen atribui à YPF um valor total de US$ 15 bilhões. Atualmente o Petersen possui uma participação de 15,46% na filial argentina.

Se a versão (da oferta chinesa) for correta, a cifra de US$ 17 bilhões é bastante significativa, em relação ao que seria o valor patrimonial da filial argentina e ao preço pelo qual a YPF foi vendida, diz Jorge Lapeña, ex-secretário de Energia da Argentina que atualmente ocupa cargo de diretor do Instituto Argentino da Energia General Mosconi.

A Repsol adquiriu o controle da antiga estatal argentina Yacimientos Petroliferos Fiscales em 1999, com uma oferta de US$ 13,4 bilhões por 85% do capital. No balanço anual de 2008, a YPF SA registrava um patrimônio líquido de US$ 7,4 bilhões, segundo os padrões contábeis americanos. O total de ativos era de US$ 12,8 bilhões. A empresa teve receita de US$ 10,1 bilhões e lucro líquido de US$ 874 milhões.

Mais recentemente, a Repsol já adiou várias vezes uma oferta pública de 20% da YPF devido às condições adversas do mercado, o que implica que a empresa espanhola não está disposta a vender a YPF barato.

No lado chinês, a CNPC assumiu o controle das negociações e informou inicialmente a oferta no fim de junho, disse uma das pessoas a par das negociações. A Repsol respondeu com uma carta em 21 de julho e aceitou continuar negociando, disse a pessoa.

A Repsol acha que os chineses podem oferecer mais e aparentemente está esperando que apareçam outros interessados. mas os chineses acham que a avaliação dos ativos é justa o bastante, disse a pessoa.

O petróleo leve começou o ano em US$ 58 o barril e desde então já subiu para US$ 70, o que pode ser um fator importante nas negociações.

Um porta-voz da CNPC disse que não tem nenhuma informação sobre a questão. A YPF não quis comentar sobre um possível acordo. A Grupo Petersen encaminhou os pedidos de entrevista à YPF.

A intenção da CNPC é adquirir o controle da YPF, enquanto a Cnooc ficaria com uma fatia menor, disseram as pessoas. A agência oficial da China para o setor energético vai cooperar com a CNPC e a Cnooc para estabelecer uma estrutura para o acordo entre as duas estatais chinesas. As negociações não têm prazo, disseram elas. (Colaboraram Pilar Conci, Nisha Gopalan, Amy Or, Bernd Radowitz e Taos Turner). (Valor Econômico)