O Porto de Santos não é atacado por piratas há dois anos. O trabalho diuturno de vigilância e a dificuldade deste tipo de roubo vêm desencorajando os bandidos, segundo a Polícia Federal. As últimas prisões feitas no Porto aconteceram durante a Operação Capitão Jack em alusão a Jack Sparrow, personagem vivido por Johnny Depp na sequência Piratas do Caribe, da Disney Pictures. Executada em 28 de abril de 2009,aaçãoenvolveu96agentes, que desbarataram duas quadrilhas que agiam no Porto de Santos. Uma delas roubava itens de dentro de contêineres em navios atracados ou fundeados. A outra escondia cocaína a bordo, para envio à Europa. Sete pessoas foram detidas na ocasião. Atacar um navio na Barra (de Santos), por exemplo, é uma atividade de altíssimo risco para o bandido. Ele não sabe quando pode encontrar um tripulante armado a bordo, explica o chefe da Delegacia de Polícia Marítima (Depom) da Polícia Federal em Santos, Luís Carlos de Oliveira. Segundo ele, não há qualquer semelhança entre os bandidos que atacam navios próximos a um porto como Santos e os somalis, que agem na costa africana.Lá eles são orquestrados, são quadrilhas bem estruturadas. Aqui não. Os piratas que atacam na região de Santos são, na verdade, ladrões que se aproveitam da escuridão da noite para invadir navios atracados nos terminais marítimos.
Buscam, quase sempre, produtos eletrônicos dentro dos contêineres. Outra forma de abordagem utilizada pelos bandidos em diversas ocasiões é a aproximação, por meio de barcos, dos cargueiros que aguardam na Barra de Santos uma vaga no cais. É comum que a esperados cargueiros demore vários dias, o que facilita a ação dos infratores ¬ quase sempre, moradores da região da Baixada Santista. Para subir a bordo, os pira tas caiçaras se valem de garateias um tipo de corda presa por um gancho. Em geral, buscam bens que possam revender no mercado negro, como produtos eletrônicos, óculos e relógios. Em todo o Brasil, os ataques de piratas foram relativamente baixos nos últimos anos. Em 2006, foram sete; em 2007, quatro; em 2008, um. Em 2009, subiram para cinco e no ano passado foram nove. Sete dos delitos ocorridos em 2010 foram registrados em Vila do Conde, no Pará, segundo o Bureau Marítimo Internacional, ligado à Câmara Internacional do Comércio.
Mesmo com o marasmo na atividade da pira- taria em Santos, a organização recomenda cuidado às embarcações nas águas próximas ao complexo santista. A Polícia Federal é responsável pelo patrulhamento nos 14 quilômetros de cais do Porto de Santos e dispõe de lanchas para o serviço. Em terra, a segurança das instalações portuárias é garantida pela Guarda Portuária, corporação ligada à Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp). As invasões de ladrões dos mares em Santos, quando a cidade não passava de uma vila, séculos atrás, foram motivadas pelo momento histórico pelo qual o mundo passava. O Brasil foi colônia de Portugal, que por sua vez ficou sob domínio espanhol por seis décadas, a partir de 1580. Naquela época, o trono português era ocupado pelo cardeal D.
Henrique, que morreu sem deixar herdeiros. Seu posto foi ocupado pelo rei da Espanha, Felipe II, com uso de violência. O fato uniu os dois povos sob um só governo. A Espanha era inimiga declarada da Inglaterra e dos Países Baixos. Os governos destes dois países concediam cartas de Corso a exploradores ¬ documento que legitimava pilhagens e ataques a países inimigos.
Seus portadores asseguravam riquezas para si, mas destinavam parte dos roubos ao governo de seu país. Era uma forma barata encontrada pelos reis para atacar adversários, explica a historiadora Wilma Therezinha Fernandes. Neste contexto, Santos foi invadida diversas vezes por navegadores estrangeiros, que por aqui passavam antes que se aventurassem pelo Estreito de Magalhíes ¬ corredor entre os oceanos Pacífico e Atlântico. Eles vinham a Santos para consertar os barcos e buscar alimentos. Era o tal do refresco, conta a historiadora. A Tribuna não esquece Atacar um navio na Barra (de Santos), por exemplo, é uma atividade de altíssimo risco para o bandido. Ele não sabe quando pode encontrar um tripulante armado a bordo A flotilha do corsário inglês Edward Fenton chegou a Santos em 1583, aparentemente apenas para abastecer as embarcações com mantimentos para seguir viagem. No entanto, a esquadra foi combatida pelo capitão espanhol André Higino, da esquadra do almirante Diego Florez Valdez. Os piratas foram embora após uma batalha sangrenta no estuário santista. Depois desse episódio, Valdez ordenou, no ano seguinte, a construção de uma fortificação na entrada do canal do Porto ¬ hoje conhecida como Fortaleza da Barra Grande, em Guarujá. Outro corsário que passou por Santos foi o também inglês Thomas Cavendish. Ele chegou na noite de Natal de 1591 e aprisionou a população local, que estava praticamente toda reunida dentro da Igreja Matriz para a Missa do Galo.Ao retornar, no ano seguinte, Cavendish foi repelido pela população.Diz a lenda que, antes de partir, ferido, ele escondeu um tesouro na Ilha da Moela,em Guarujá. Quem também entrou para a história de Santos foi o corsário holandês Joris Van Spilbergen. Ele chegou em 1615 com seis naus. Após um combate na entrada do Porto, os bandidos invadiram a vila e perseguiram a população, que se refugiou na capela de Monte Serrat, no alto do morro de mesmo nome. Mas um desbarrancamento soterrou os atacantes. O milagre foi atribuído a Nossa Senhora do Monte Serrat, que mais tarde se tornou padroeira da Cidade.