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Clippings - 04/11/25

Portos do Açu e de Antuérpia-Bruges planejam criar corredor verde de e-combustíveis até 2030

Com rota marítima de e-combustíveis, porto belga projeta importação de 6 a 10 milhões de toneladas de amônia verde, a serem embarcadas por ano, no complexo portuário fluminense

O Porto do Açu (RJ) e o Porto de Antuérpia-Bruges assinaram, nesta segunda-feira (3), uma carta de intenções para a criação de um corredor marítimo verde entre Brasil e Europa, com potencial para se tornar uma rota de exportação de e-combustíveis. A expectativa é que o corredor transatlântico esteja em operação antes de 2030. O porto belga projeta a importação de 6 milhões a 10 milhões de toneladas de amônia verde a serem embarcadas anualmente no Açu até 2030 — o equivalente a 1,2 milhão a 1,5 milhão de toneladas de hidrogênio verde. O H2 é parte do processo para se chegar na amônia verde e está diretamente conectado à produção dos combustíveis verdes que vão integrar o corredor.

Essa demanda de mercado poderá ser atendida pela produção brasileira, incluindo a prevista para o hub de hidrogênio e derivados do complexo portuário e industrial brasileiro, localizado no norte fluminense. Um estudo de pré-viabilidade desenvolvido pelo Rocky Mountain Institute (RMI) e pelo Global Maritime Forum (GMF) foi apresentado durante o evento ‘Oceans of Opportunity Summit’, no Rio de Janeiro, quando foi anunciado o acordo para o desenvolvimento do corredor.

O trabalho apontou que o trajeto Açu-Antuérpia oferece vantagens comerciais, entre os quais a possibilidade de paridade de custos na operação dos navios em relação a combustíveis convencionais, além do mapeamento da infraestrutura necessária, incluindo terminais, protocolos de segurança e requisitos regulatórios e da viabilidade comercial para atender à demanda europeia com baixo risco de compliance.

O mapeamento destacou que o Brasil possui condições competitivas para se tornar um dos maiores produtores globais de e-combustíveis, impulsionado por sua matriz elétrica predominantemente renovável, políticas públicas para o setor e baixo custo de capital. O levantamento também apontou que a perspectiva de implementação da estrutura Net Zero da Organização Marítima Internacional (IMO) e políticas europeias como FuelEU Maritime e Emissions Trading System (ETS) devem criar incentivos adicionais para combustíveis de emissão zero ou quase zero.

O CEO do Porto de Antuérpia-Bruges Internacional, Kristof Waterschoot, destacou que o complexo belga é o segundo maior hub de abastecimento de combustíveis marítimos e o maior cluster petroquímico da União Europeia. “Juntos, estamos preparando os primeiros fluxos de importação de amônia verde do Açu para Antuérpia-Bruges, impulsionando uma economia marítima verdadeiramente sustentável e circular”, declarou.

O CEO da Prumo, Rogério Zampronha, destacou que corredores verdes premiam embarcações que trafegam em rotas com volume de emissões mais baixos, com a disponibilidade dos combustíveis utilizados nessas embarcações nas duas pontas, independente de qual seja o insumo. O executivo disse que o momento pré-COP30, que acontece de 10 a 21 de novembro em Belém (PA), é de muitas articulações que podem colocar o Brasil em posição relevante e temas relacionados à transição energética.

Para Zampronha, o Brasil está entrando tarde na corrida por combustíveis amônia e metanol, mas tem potencial de liderar esse processo, independente do timing das decisões regulatórias por parte dos membros da IMO e dos governos de diferentes países. “Não podemos só esperar governos e a regulação tomarem decisões que vão mudar o mundo. Podemos fazer parte disso na frente e puxar a legislação e a regulação (…). A implementação de corredores verdes é uma das ações que podemos fazer, independente de qualquer decisão política”, comentou em entrevista a jornalistas durante o evento.

O CEO do Porto do Açu, Eugenio Figueiredo, acrescentou que, quando se coloca nas duas pontas portos que têm capacidade para fazer abastecimento com esse tipo de combustível, se cria uma forma de fazer essa movimentação com combustíveis verdes naquele trajeto. “Não adianta ter forma de abastecer com amônia ou com metanol no Açu se for para outro porto que não tenha o mesmo combustível na outra ponta”, ressaltou.

O projeto do Porto do Açu visa um hub global de exportação de combustíveis marítimos de emissão zero, que conecte parte da produção brasileira à crescente demanda europeia por soluções de baixo carbono e alinhado à descarbonização do setor marítimo, que hoje é responsável por aproximadamente 3% das emissões globais.

O CEO do Porto do Açu relatou que grande parte das discussões em evento do Global Maritime Forum, em Antuérpia, em outubro, debateu a busca por acordos bilaterais, regionais ou com subgrupos das discussões da IMO para que a transição continue avançando nos 12 meses de postergação das decisões sobre a estrutura Net Zero da IMO. Ele também sinalizou para a possibilidade de novos corredores envolvendo o complexo portuário brasileiro. “Os desenvolvimentos continuam, existem outras pontas. Não necessariamente só uma rota para a Europa, mas para outras áreas do globo”, contou Figueiredo.

Fonte: Revista Portos e Navios