BRASÍLIA – A chegada do pré-sal deve impactar a balança comercial brasileira de petróleo. Hoje, o País é importador de diesel, gás liquefeito para cozinha e querosene de aviação, mas se prepara, dentro do plano de metas da Petrobras, para produzir e exportar produtos derivados e não apenas petróleo cru. Exportamos produtos baratos e importamos produtos caros, disse ontem o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, durante o seminário O pré-sal e o futuro do Brasil, realizado em Brasília. Mudar esse quadro é um dos grandes desafios da empresa. Vamos ter capacidade de exportar petróleo cru, mas esta não vai ser a principal atividade, destacou Gabrielli.
Segundo informações do Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior (Mdic), até agosto de 2009 o Brasil importou US$ 841 milhões em diesel e vendeu para o exterior US$ 323 milhões do mesmo produto; as importações de querosene também são bem superiores (US$ 344 milhões) às exportações (US$ 8,1 milhões). O gás natural e o liquefeito mantém a mesma preponderância de importação – US$ 1,2 bilhão e US$ 55 milhões, respectivamente – contra zero em exportação. O inverso acontece com a gasolina, que tem preço comparativo ao diesel menor: em seis meses o país acumulou US$ 582 milhões em exportações contra US$ 1 milhão em importação do produto.
Fizemos todo investimento possível e necessário para melhorar nossas refinarias. Estamos atingindo o limite da capacidade de expansão. Precisamos construir novas refinarias e ajustar mais ainda a capacidade de processar o nosso petróleo, frisou Gabrielli. Ele contou que última refinaria construída no Brasil foi em 1980 e as unidades implantadas eram modeladas para processar óleo leve importado e produzir o máximo de gasolina, daí o perfil atual da balança comercial do Brasil na cadeia do petróleo. Estamos apresentando no horizonte de longo prazo mais refino, maior atendimento ao mercado brasileiro, porque a economia brasileira cresce impulsionada pelo mercado interno. Consequentemente, precisamos ter uma lógica para nos situar como fonte de derivados de petróleo, mais do que petróleo cru, explicou.
No cenário atual, o Brasil desponta como grande produtor de petróleo, com a vantagem de ter um mercado consumidor interno forte, diferente do que acontece na maioria dos países produtores, que dependem das exportações. Do ponto de vista da produção, estamos na terceira divisão dos países produtores. Nos próximos 15 anos, vamos entrar na primeira divisão, disse Gabrielli. Ainda de acordo com o presidente da Petrobras, é improvável, no entanto, que o Brasil se torne um grande exportador, porque o volume de refinarias em implantação será capaz de aumentar o refino para a tender a demanda interna dos produtos que hoje são importados.
Na carteira de projetos da empresa está a construção de cinco novas refinarias até 2020, com o objetivo de promover uma capacidade adicional de refino em mais de 1,2 milhão de barris por dia. Além disto, os investimentos deverão ser concentrados em qualidade e conversão. Não apenas produziremos petróleo, mas também pretendemos refinar e atender às necessidades de diesel, querosene de avião, gasolina, gás liquefeito de petróleo e derivados leves, afirmou o presidente da Petrobras.
Durante a apresentação em Brasília, Gabrielli destacou outras ações da companhia, entre elas o aumento da capacidade instalada de geração elétrica em mais de 7 mil megawatts – o equivalente à parte brasileira de Itaipu – até 2011, além de outros 6 mil megawatts de geração elétrica a partir de gás natural nas termoelétricas que pertencem a Petrobras. Temos investimentos para fazer isso, previsto hoje em US$ 174,4 bilhões nos próximos cinco anos. Isso significa mais de US$ 100 milhões por dia, todos os dias do ano, disse. Segundo ele, de janeiro a junho de 2009, a Petrobras investiu R$ 32,7 bilhões, o que representa mais de R$ 2 mil por segundo, 24h por dia.
Temos um problema gigantesco e ele independe do marco regulatório, independe das mudanças que estão sendo discutidas, disse Gabrielli referindo-se ao desafio de atender a demanda que vai surgir a partir da necessidade da Petrobras. Ele prevê como conseqüência uma pressão enorme sobre a cadeia de suprimento brasileira e internacional. Precisamos de 256 novas embarcações, navios, plataformas, barco de apoio, sondas, vamos contratar 40 sondas de perfuração de alta profundidade para o país, 26 já contratadas para serem entregues até 2012 e 28 para ser entregue depois de 2013 .
Para Gabrielli, a exploração da camada do pré-sal tem viabilidade econômica comprovada. Podemos afirmar que a produção do pré-sal hoje é economicamente viável, mesmo que o preço do barril de petróleo fique um pouco abaixo de US$ 45.