Nos últimos cinco anos, os preços de exportação dos produtos brasileiros cresceram 78%, mais que o dobro da alta dos preços dos bens dos produtos importados. Essa diferença de ritmo deu uma segurança extra às contas externas do país. Sem ela, o déficit em conta corrente, hoje na casa de 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB), seria muito maior, superando 4% do PIB.
O Brasil acumula nos últimos 12 meses um superávit comercial superior a US$ 20 bilhões Se os termos de troca – a razão entre cotações de vendas e compras externas – estivessem hoje nos níveis de 2005, quando estavam próximos da média histórica, o Brasil teria nos 12 meses até abril um rombo na balança comercial de US$ 21,7 bilhões, em vez de um superávit de US$ 23,2 bilhões, segundo cálculos do J.P. Morgan. Essa piora de quase US$ 45 bilhões no saldo comercial faria o déficit em conta corrente pular de US$ 48,9 bilhões para US$ 93,8 bilhões.
O aumento dos preços de exportação reflete o comportamento e o peso das commodities na balança comercial brasileira. No cenário de deterioração da crise europeia, uma desaceleração mais forte da economia global tenderia a afetar as cotações dos produtos primários, reduzindo o saldo comercial, e também pode ter impacto negativo sobre os fluxos de capital estrangeiro que têm ajudado a financiar o rombo na conta corrente (as transações de bens, serviços e rendas com o exterior).
Hoje, esses riscos são considerados relativamente pequenos e um déficit inferior a 2,5% do PIB parece razoável. Além das reservas superiores a US$ 330 bilhões, os investimentos estrangeiros diretos têm superado com folga o buraco em conta corrente. Importante por cobrir integralmente o elevado rombo, esse fluxo crescente de investimento para atividades produtivas deve rondar US$ 60 bilhões neste ano, mas até mesmo esse financiamento pode ser reduzido caso haja uma desaceleração mais significativa da economia global ou um aumento mais forte da aversão ao risco.
Para o economista-chefe do J.P. Morgan, Fabio Akira, a dependência da balança comercial em relação às commodities deixa claro que o país está mais sujeito às oscilações do crescimento global, especialmente da China. Nelson Marconi, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), vê com preocupação o déficit em conta corrente. Ele parece inofensivo, mas se o humor externo mudar, pode ficar complicado.