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Na Mídia - 28/04/22

Projetos atraem investidor estrangeiro

As fusões e aquisições no setor de energia, puxadas pelas negociações de fontes renováveis, estão a todo vapor e podem ter fôlego para avançar até 2023, segundo especialistas no tema. Os fatores deste aquecimento são muitos e justificam o otimismo.

Conforme informação publicada pelo Valor, ativos importantes como Ibitu Energia, Rio Energy e usinas da Renova podem ser alvo de aquisições. Colaboram para este ambiente fatores como elevada liquidez no mercado, dólar em nível que torna ativos locais mais baratos aos olhares de investidores estrangeiros e pressões globais por práticas ESG (preservação ambiental, ações sociais e governança corporativa, na sigla em inglês), que estimulam a compra de participações em fontes renováveis.

Levantamento feito pelo Itaú BBA mostra que no ano passado foram fechadas 22 transações no setor, com valor de R$ 16 bilhões. Para este ano, a estimativa inicial era movimentar R$ 20 bilhões. Agora a perspectiva subiu para R$ 23 bilhões. Nos primeiros meses deste ano, já foram fechados alguns acordos. A Engie concluiu a compra dos Conjuntos Fotovoltaicos Paracatu e Floresta, por R$ 625 milhões, com capacidade instalada total de 259,8 MWp, enquanto a Intelbras adquiriu a catarinense Renovigi Energia Solar, por R$ 334 milhões.

Um dos motivos que tornaram o setor tão atraente aos investidores, citado em uníssono pelos entrevistados, é a regulação longeva e bem estruturada. “O Brasil tem uma situação privilegiada para fontes renováveis e as pressões EGS estimulam aquisições e investimentos no país, mas isto só é possível com um arcabouço regulatório avançado no setor”, afirma Juliana Senna, sócia do Kincaid Mendes Vianna Advogados, escritório que tem uma área dedicada a assessorar projetos do setor de energia.

O sócio e head de infraestrutura na Vinci Partners, José Guilherme, concorda e afirma que o aspecto regulatório é o grande pano de fundo que faz o setor ser tão atraente aos investidores. “De todos os setores de infraestrutura, o de energia é o que tem a regulação mais sólida, mesmo com alguns absurdos pontuais, mas que não mudaram o trilho da racionalidade que marca o setor”, diz o executivo da Vinci, empresa com longo histórico de investimentos na área e com R$ 57 bilhões sob gestão.

A Vinci investe através de estratégias distintas. A área de private equity, que ficou 12 anos no capital da Equatorial Energia, hoje é mais focada em setores que se beneficiam do crescimento econômico. A gestora tem ainda uma área de crédito privado, que financia a construção de placas solares, equipamentos eólicos, rodovias, e outra de infraestrutura, que olha mais de perto ativos do setor e tem um fundo listado na bolsa, o Vinci Energia (VIGT11). No ano passado, o fundo comprou três parques eólicos da Petrobras e, quase na virada do ano, três Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) da Renova.

“Tanto as eólicas quanto as PCHs são ativos performados [já em operação], com contratos de longo prazo para venda de energia. Estamos bem atuantes no mercado”, ressalta o executivo. Ele não dá detalhes sobre novas negociações e afirma que a estratégia da Vincié ser agnóstico na escolha entre novos projetos e ativos já viabilizados. “Na Aneel tem muito projeto buscando outorga, principalmente de renováveis, e que são de desenvolvedores, sem capital. Nosso universo de investimento começa nesta fase, financiando, e inclui ativos já prontos que tenham boa perspectiva ou mesmo parcerias.”

A busca global por energias renováveis também é citada por Carlos Nicácio, sócio-líder deEnergy, Resources & Industrials da Deloitte. “Esta procura gera oportunidades complayers reavaliando seus portfólios e prioridades”, afirma Nicácio, acrescentando que o setor de energia no Brasil sempre foi muito atrativo ao capital externo. “Geografia que favorece eólica e solar, estabilidade das regras, segurança jurídica e institucional, tudo colabora para a atratividade dos ativos locais.”

Na visão do especialista, outro fator importante neste momento é a perspectiva de que o mercado livre de energia chegue até o consumidor residencial nos próximos anos. “As empresas já estão se posicionando para uma competição que será mais acirrada, o que demonstra confiança de que as regras vão avançar.”

O executivo se refere à proposta de que todos os consumidores possam escolher livremente seu fornecedor de energia. Hoje, o Ambiente de Contratação Livre (ACL) é restrito apenas aos consumidores com demanda acima de 500 kW, como indústrias,shoppings e outras empresas de médio e grande portes. A Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel) defende a criação de um cronograma para a abertura gradativa para todos os consumidores, inclusive residenciais, até janeiro de2026.

Para Alexandre Viana, sócio e diretor da consultoria Thymos Energia, as pressões para que as empresas cumpram metas ESG tem um peso grande na forte movimentação do setor. “Mesmo não sendo às vezes o melhor negócio financeiramente, por questões de governança as empresas investem em renováveis, buscam adquirir energia de fontes eólica e solar, o que pressiona os geradores a investir em renováveis.”
Na visão do executivo da Thymos, o avanço do mercado livre nos próximos anos é essencial neste movimento de revisão dos portfólios. Ele acredita que a abertura deve reduzir o preço da energia entre 15% e 25%. “Grandes distribuidoras vão ter que pensar como uma empresa de varejo competitiva e ir a mercado comprar energia barata e renovável para vender ao consumidor.”

Outro fator relevante que tem estimulado os investimentos em projetos novos ou a compra de já performados é o benefício tarifário para eólica e solar. A Lei 14.120, de 2021,definiu que, até 1º de março deste ano, outorgas emitidas para eólica e solar se beneficiam do desconto da tarifa a fio (no sistema de distribuição ao consumidor final), desde que os projetos sejam construídos em até quatro anos. O desconto é de 50%. “Faz sentido tanto

comprar projeto já outorgado, ainda em construção, como outros já em operação e quetêm o benefício garantido. A janela de oportunidade é agora. Por isso as fusões eaquisições devem permanecer assim pelo menos até 2023”, afirma Viana. O desconto natarifa a fio dura o tempo da outorga, 30 anos ou mais, e, dependendo do estado, chega aR$ 40 ou R$ 50 por megawatt hora.

Um bom exemplo de empresa que está indo às compras e se organizando para estatransformação no mercado de energia que está por vir é a Copel, controlada pelo governo do Paraná e com capital aberto na bolsa. O diretor de novos negócios da Copel, Cassio daSilva Santana, destaca a busca por projetos com o selo ESG, principalmente para quematende consumidores que já migraram para o mercado livre e valorizam fontes renováveis.

“Outro fator que estimula o mercado é a contagem regressiva para o fim do incentivo a projetos eólicos e solares”, diz Santana, citando em particular o forte interesse em ativos do Nordeste próximos a sistemas de transmissão, hoje um gargalo para renováveis. No ano passado, a Copel comprou o Complexo Eólico Vilas, por R$ 1,06 bilhão. O empreendimento tem 186,7 MW de capacidade instalada e está localizado no município de Serra do Mel (RN).

“Nossa política é reorganizar a companhia, vender ativos que não nos interessam, como a Copel Telecom, e usar todos os recursos para crescermos em renováveis.” O diretor afirma que a Copel segue no mercado, mas que não comentaria possíveis ativos de interesse. Dentro da política de aquisições, o foco da companhia está em eólicas com mais de 150 MW em qualquer região, ou abaixo desta capacidade, desde que no Rio Grande do Norte. Em solar, foco em projetos com mais de 100 MW, ou abaixo desta capacidade, desde que em regiões onde a Copel já tenha outros ativos.

Segundo fontes do mercado, pelos critérios de aquisição definidos pela companhia, alguns ativos que estão à venda podem interessar, como o Complexo Eólico Riachão, de145,8 MW, no Rio Grande do Norte, e o Parque Eólico Caldeirão, de 189 MW, no Piauí, ambos da Ibitu Energia. Ativos da Rio Energy também se enquadram nos critérios da Copel. A empresa tem dois complexos eólicos, o Itarema, no Ceará, com 207 MW, e o Caetité, na Bahia, com 247,7 MW.

“Estamos nos preparando para um mercado livre mais amplo, com um pacote de produtos e serviços para que o consumidor queira ficar com a Copel. Ter ativos como solar e eólica é importante nesta estratégia”, conclui Cassio Santana, acrescentando que iniciativas de inovação aberta, como o Copel Volt, e o apoio a startups do setor fazem parte desta estratégia.
Outra grande negociação no setor fechada neste ano foi a compra da Renovigi Energia Solar pela Intelbras, por R$ 334 milhões, operação já aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). As empresas atuam no mercado de

distribuição de sistemas de energia elétrica a partir do uso de placas de geradores fotovoltaicos.
“A Intelbras foca seus planos de crescimento de forma orgânica, prioritariamente. Por outro lado, entendemos que aquisições que complementem nossas soluções em termos de portifólio ou de tecnologias são interessantes para reforçar nossa posição de liderança nos mercados de atuação”, afirma o CEO da Intelbras, Altair Silvestri. Ele acrescenta que o crescimento da energia solar no país vai se manter forte por pelo menos dez anos. “Isto torna natural que “empresas mais estruturadas e que se organizarem melhor estarão maispreparadas para processos de fusão e aquisição.”

A Intelbras, que tem capital aberto na bolsa, assumirá indiretamente a integralidade do capital social da Nibble Tecnologia, controlada pela Renovigi, empresa que faturou R$799,48 milhões em 2021. Sobre a possibilidade de novas aquisições, o CEO da Intelbras afirma que “continua ativamente observando e buscando empresas que complementem o portfólio ou solução tecnológica em nossos três segmentos de atuação”.

Fonte: Valor Econômico