São PAULO – As American Depositary Receipt (ADRs) – ações de empresas brasileiras listadas na Bolsa de Nova York (Nyse) – vêm apresentando um desempenho positivo no acumulado do ano. O destaque ficou com as ADRs da MMX Mineração, com alta de 326,6%, seguida pela Gafisa (227,14%) e Contax Participações (165,79%).
Entre os papéis que mais caíram, o das construtoras e empresas de médio e pequeno porte foram as que mais sofreram. Seria, no meu entender, natural, com a recuperação e estabilização da economia, que esses papéis tivessem uma performance melhor que as outras, explica Ricardo Fontes, professor de finanças do Insper.
Além das ADRs já destacadas, todas as outras apresentam valorização no acumulado do ano.
O professor afirma ainda que empresas do setor de construção civil sofreram muito com a crise, por isso, apresentam boa elevação nas ADRs. A Gafisa continua recebendo incentivos do governo por conta do pacote para a construção. O próximo ano deve ser favorável para o setor, diz.
Duilio Calciolari, CFO da Gafisa compartilha da mesma opinião, afirmando que a crise financeira prejudicou o desempenho das ADRs. Tem haver com a reação muito forte negativa no final do ano passado, que trouxe nossa ação para um patamar muito baixo. Os investidores ficaram muito assustados com a crise financeira e tiraram suas posições e a ação derrubou de uma maneira significativa, diz o executivo.
Segundo Calciolari, as incertezas com a taxa de juros também influenciou na retração das ADRs. Isso foi uma reação do mercado muito preocupado com o aumento da taxa de juros. Nosso setor que depende fundamentalmente de confiança e taxa de juros e lá atrás ninguém sabia o que iria acontecer, então o mercado saiu vendendo ações da companhia, afirma Calciolari.
Hoje as ações estão voltando para patamares mais razoáveis, diz o executivo, referindo-se ao valor por ADR que está em US$ 30,48 e no seu menor valor durante a crise chegou a US$ 8.
Atualmente, com uma taxa de juros a 8,75% ao ano e com a volta da confiança dos investidores estrangeiros em companhias brasileiras, Fontes acredita que o setor com maior potencial de crescimento é o de construção civil.
Continuo apostando no setor de construção, como um setor que vai se destacar bem. Empresas que sofreram muito estão começando a recuperar. A Braskem praticamente está zerando o ano. Já estão apresentando algum ganho, explica o professor.
O otimismo com as ações de empresas de construção também são vistas pelos principais analistas de mercado, destaca o CFO da Gafisa. Várias analistas que atualizaram suas projeções estão com preço alvo para a Gafisa em 12 meses, a partir de agosto e setembro deste ano, em de US$ 35 para cada ADR. Cada ADR possui 2 ações ordinárias da Gafisa, diz.
Entre as 20 empresas que tiveram a maior elevação em suas ADRs em 2009, a Petrobras ficou com a 20ª colocação. Porém, Fontes diz que a companhia não sofreu tanto com a crise financeira, por isso sua alta é inferior.
A Petrobras, por ser mais líquida, acabou sofrendo menos. O petróleo como commodity caiu e o mercado se ajustou. Junta-se a isso a questão da liquidez onde os investidores necessitavam de recursos e venderam os papéis mais líquidos. Não só a Petrobras, mas também a Vale, caíram por ter uma maior liquidez nas ações, explica o professor.
Até a última sexta-feira, as ADRs da MMX Mineração estavam cotadas a US$ 4,96, e os títulos da Contax Participações eram negociados a US$ 2,01. Já as ADRs da Petrobras valem US$ 42,94.
Eleições
Por ser um ano eleitoral 2010 pode acabar prejudicando alguns setores da economia brasileira, afirma Fontes. Os setores de massa são sempre beneficiados. É claro que setores que necessitam de decisões importantes no aspecto tributário ou político acabam sofrendo porque as decisões políticas param, diz Fontes.
O professor dia que empresas que precisam de redução tributária dificilmente serão beneficiados. A economia como um todo em perãodos de eleição é sempre positivo porque o governo injeta mais recursos para conseguir alavancar mais votos, conclui.