A reorganização dos navios no mundo, a partir da entrada na navegação dos cargueiros de 18 mil TEUs da Maersk, deverá provocar a redução no valor do frete marítimo, acreditam especialistas do setor.
A mudança também será imperativa para o aumento da produtividade nos terminais brasileiros. De acordo com o consultor Marcos Vendramini, o frete marítimo certamente vai cair porque, na medida em que os navios podem carregar mais contêineres, a armadora fatura pelos negócios gerados em escala. E outra, eles partirão da China cheios, que é um grande mercado. Vai haver carga sempre.
Vendramini acredita que haverá redução de frete também para os cargueiros que fizerem escalas em Santos. Acho que vai porque navios de maior capacidade virão para cá. Já para Nelson Carlini, a redução no frete não será imediata.
Para ele, no primeiro momento, o armador cuidará de baixar seus custos próprios aproveitando as embarcações gigantes. Mas, por outro lado, ele avalia que as companhias concorrentes da Maersk terão de se preparar para adquirir cargueiros maiores. As outras terão de oferecer capacidade, senão a Maersk pode oferecer desconto para o cliente e aumentar sua margem no mercado. No médio prazo, o mercado vai acompanhar. No curto, só a Maersk vai ganhar dinheiro.
PRODUTIVIDADE
O Brasil atualmente não tem mercado para grandes embarcações e nem eficiência nas operações portuárias, segundo o presidente do Comitê de Usuários dos Portos e Aeroportos de São Paulo (Comus), José Cândido Senna.
Particularmente, Santos não tem mercado para grandes volumes. No Brasil, mais ninguém. Mesmo que se cumpram as dragagens de aprofundamento, não acredito na vinda de embarcações tão maiores quanto as atuais. Para Senna, a negativa começa pela produtividade das instalações portuárias.
O armador busca crescentes economias de escala para mandar um navio para este ou aquele porto. Em 2001, para embarcar 390 TEUs em um navio, levava seis horas e meia. Em 2008, os navios cresceram e a consignação média foi de 800 TEUs. Para fazer esse volume, precisava de 10 horas. Dobrou o número de contêineres, mas não de horas. Só que não temos terminais preparados para muito mais que isso. O coordenador do Comus foi além e disse que, para os portos nacionais receberem embarcações de grande porte, precisarão rediscutir a permanência de contêineres em suas áreas.
A palavra de ordem é programação para ocupação das áreas molhadas (nos portos). Para navios maiores, é preciso mais áreas. De acordo com Marcos Vendramini, os navios de 18 mil TEUs, por exemplo, ocuparão metade ou pouco mais da metade da lotação total dos terminais portuários de médio porte do Brasil.
Investimento será necessário, alerta diretor As previsões de crescimento para o Brasil nos próximos anos apontam para a atração de navios cada vez maiores e para a consolidação do mercado,analisa o diretor da consultoria e empresa de comércio exterior Eternity Global, Yuri Andrade. Mas, para ele, a iniciativa privada e os governos do País terão de fazer os investimentos necessários na infraestrutura.
Acredito que a médio prazo, com este crescimento meteórico do Brasil, vamos encontrar saídas para aumentar o fluxo de cargas, principalmente com o crescimento dos Brics (grupo que reúne os países emergentes Brasil, Rússia, Índia e China). A gente, os brasileiros, vai dar um jeito para atender o mercado e ampliar nossas operações, prevê Andrade.
O consultor aposta que o crescimento da fronteira agrícola brasileira, impulsionada pelas exportações de commodities, vai ampliar o potencial de cargas e as oportunidades para a expansão portuária. Hoje, nossa estrutura não atende navios intermediários, de 10 mil a 12 mil TEUs, mas na medida em que os investimentos vão acontecendo,vamos captar esses navios com certeza. Para Andrade, as relações do Brasil com o Oriente Médio e a Ásia vão fortalecer o potencial do comércio exterior do País.
Tudo isso vai gerar rotas alternativas, com agilidade, frequência e mais escalas. Vai haver mais volume de carga.