Empresas transnacionais brasileiras fizeram em julho a repatriação de US$ 3,577 bilhões em investimentos diretos que estavam aplicados no exterior, mostram estatísticas divulgadas ontem pelo Banco Central. Em agosto, mantém-se a tendência de retorno de capitais brasileiros, com US$ 1,2 bilhões, nos dados apurados até ontem. O movimento acumulado no ano já chega a US$ 6,6 bilhões.
Em parte, o regresso dos capitais se deve às perspectivas menos favoráveis de lucros no exterior, em virtude do menor crescimento da economia mundial. Mas, em grande medida, o movimento de capitais é reflexo da liberação cambial recente, que deu maior flexibilidade para as empresas fazerem a sua gestão de caixa para pagamento de importações e exportações.
Como parte do pacote de liberação cambial, o BC autorizou em março de 2008 que os exportadores deixem no exterior 100% de suas receitas de exportações. Essa faculdade tem sido bastante usada sobretudo pelas empresas brasileiras com filiais no exterior. Não há estatística disponível que mostre exatamente quanto as empresas brasileiras deixaram no exterior. Mas as estimativas do BC são de que, em julho, as empresas brasileiras mantinham US$ 17,185 bilhões fora do país. Em julho, apenas, as companhias mantiveram no exterior US$ 3,951 bilhões em receitas de exportações.
Uma das formas usadas pelas empresas para trazer esses recursos ao Brasil é por meio da quitação de empréstimos intercompanhia. Em julho, as filiais de empresas brasileiras localizadas no exterior pagaram liquidamente US$ 3,215 bilhões às suas matrizes localizadas no Brasil. Os empréstimos intercompanhias são considerados investimentos diretos. Por isso, essas operações engordam as estatísticas do retorno de investimentos brasileiros diretos no exterior. Levantamento feito pelo BC mostra que os recursos estão sendo trazidos ao Brasil para quitar importações. Em 2008, o governo flexibilizou as regras para pagamento de importações, concedendo prazo de 360 dias em relação ao embarque das mercadorias.
O pagamento de importações explica por que, nos últimos meses, o câmbio contratado de importações está andando mais rápido do que as importações físicas. Em julho, o câmbio contratado de importações somou US$ 12,719 bilhões, acima das importações físicas, US$ 11,215 bilhões. (AR)