As empresas podem ter algum tipo de meta ambiental para o futuro – este talvez seja um dos resultados mais concretos da Rio+20, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento, no Rio de Janeiro, em junho. Seria, como o nome diz, uma espécie de cadastro voluntário de compromissos, público e transparente.
Este registro de promessas sustentáveis do mundo dos negócios poderia ficar no site das Nações Unidas, por exemplo. Ali, setores empresariais e grandes companhias registrariam, por exemplo, seu compromisso de deixar de usar determinado item em sua linha de produção, em certo prazo, porque ele seria fonte importante de emissão de gases-estufa.
Outro setor poderia estabelecer uma promessa com seus consumidores de garantir uma cadeia de produção onde não se desmatam florestas.
Esta iniciativa está no último parágrafo do texto O Futuro que Queremos, o principal documento da Rio+20. O texto, de 19 páginas, é atualmente um rascunho do que virá a ser o documento final da cúpula.
Várias rodadas de negociações com delegados de 193 países definirão o texto final, que será aprovado pelos chefes de Estado e de governo no encontro, de 20 a 22 de junho. A primeira dessas reuniões começa hoje, em Nova York.
O compromisso destas empresas tem um impacto importante e, sendo público, a sociedade pode cobrar, explica o embaixador Luiz Alberto Figueiredo Machado, subsecretário-geral de Meio Ambiente, Energia, Ciência e Tecnologia do Ministério das Relações Exteriores e à frente das negociações para a Rio+20.
É transparente e tem valor moral. Nenhuma empresa vai querer divulgar um compromisso e depois não cumprir, continua.
Figueiredo viaja hoje a Porto Alegre, para participar de debates sobre a conferência com a sociedade civil no Fórum Social Mundial. De lá vai a Davos, na Suíça, para o Fórum Econômico Mundial, que também incluiu na agenda vários encontros sobre economia verde, um dos temas mais importantes da Rio+20. O diplomata quer fazer contatos com executivos e avançar no engajamento empresarial.
O texto em discussão esta semana, em Nova York, é uma base mínima para se trabalhar, avalia o diplomata. Mas é uma boa base mínima, não é ruim, diz. Até sexta, delegados discutem o draft zero e indicam onde há consenso ou conflito.
O governo brasileiro quer conseguir um conteúdo forte para fazer com que o maior número de chefes de Estado e de governo participem do evento.
O que é fundamental é que a Rio+20 tenha uma reflexão sobre o modelo de desenvolvimento que se pretende no futuro. Alguns modelos de hoje mostram que estão esgotando sua capacidade de responder aos problemas ou criam crises, como a do clima.
A Rio+20 é a ocasião para que se pense em um modelo que, ao mesmo tempo alie desenvolvimento econômico, social e ambiental, afirmou Figueiredo. Queremos ter isso claramente nesse texto.
As organizações ambientalistas reagiram ao teor genérico da primeira versão do documento. Está no rumo certo, mas com a magnitude errada, diz um release da rede WWF. O Cadastro de Compromissos Voluntários proposto simplesmente não irá colocar o planeta onde ele precisa estar, disse Lasse Gustavsson, diretor executivo de conservação do WWF internacional.
A ONG Vitae Civilis, no Brasil, enviou ao Itamaraty a ideia de que a Rio+20 lance o processo de uma Convenção da ONU sobre informações empresariais sustentáveis.