Sem precisar quando, o diretor de Exploração e Produção da Shell para as Américas, Marvin Odum, afirmou ontem que a petroleira anglo-inglesa pretende chegar à camada pré-sal da Bacia de Campos, no litoral do Espírito Santo, por meio dos campos que a empresa possui no Parque das Conchas. Há um mês, a Shell extraiu o primeiro óleo no local, mas na camada pós-sal (antes do sal).

Atualmente, estão sendo produzidos 10 mil barris por dia em dez poços de três campos distintos (Abalone, Ostra e Argonauta B-West) – mais adiante a empresa desenvolverá um quarto campo na área (Argonauta O-North). Os campos têm potencial para produção de até 100 mil barris/dia e estão sendo explorados pelo FPSO Espírito Santo.

Odum afirmou que, antes de chegar ao pré-sal, a empresa irá focar no desenvolvimento de seus quatro campos, que têm previsão de operar em sua plenitude em 2010. O FPSO Espírito Santo percorrerá os poços do Parque das Conchas e, quando eles estiverem com bons níveis de produção, nós olharemos para o pré-sal, afirmou Odum, em entrevista coletiva para marcar o início da produção no Parque das Conchas, ontem, na residência oficial do Governo do Estado do Espírito Santo, em Vila Velha.

O petróleo encontrado no Parque das Conchas é de característica pesada e seu destino será a exportação, já que a companhia não possui refinarias no Brasil. De acordo com o presidente da Shell no Brasil, Vasco Dias, a empresa não refinará esse óleo no País. O executivo descartou também a possibilidade de se investir na construção ou aquisição de ativos de refino no Brasil.

Odum não detalhou quanto a Shell investirá no Brasil neste ano e nem em 2010, mas, segundo ele, provavelmente, o volume de investimento não será maior que o de 2008, porque as instalações para o desenvolvimento dos novos campos já foi toda montada. Considerando que todas as instalações já estão prontas, acredito que o investimento será um pouco menor, disse. Em 2008, a empresa investiu US$ 520 milhões no setor no País.

MARCO. Com relação ao novo marco regulatório do setor, Odum afirmou que o importante é que ele garanta a competitividade do setor, para que o mercado local seja atrativo para os investidores. Outro fator destacado pelo executivo é que a legislação seja estável.

Nós gostamos do sistema atual, mas não é essencial para a operação. Trabalhamos em vários outros lugares do mundo, cuja legislação é diferente do Brasil. Como essa discussão é de cunho político, eu, como investidor estrangeiro, prefiro que seja debatida pelos políticos, afirmou Odum.

Mesmo com as mudanças previstas para a legislação do petróleo no Brasil, os campos que a empresa possui no Parque das Conchas continuarão sob concessão da petroleira, independentemente de estarem no pré ou no pós-sal. Odum explicou que o pré-sal se encontra no andar de baixo de onde está sendo desenvolvida a produção no Parque das Conchas. Estamos aguardando o melhor momento para chegar lá (no pré-sal), disse.

Odum classificou como normal o fato de a inglesa Britsh Gas ter encontrado um poço seco na Bacia de Santos. Na segunda-feira, a petroleira informou ter ultrapassado a camada de sal até a região do pré-sal, mas o poço resultou seco, com indícios de gás, porém sem vazão comercial. Segundo Odum, a exploração de petróleo envolve riscos em quaisquer circunstâncias.

São grandes investimentos que envolvem riscos e é claro que haverá poços secos, assim como bons poços. Isso ocorre em todo lugar do mundo. No Golfo do México, que possui campos com características semelhantes aos do Brasil, por exemplo, já foram encontrados poços secos, o que não inviabilizou a descoberta de bons poços por lá. Isso não nos surpreende, afirmou.

O Parque das Conchas, antigo bloco BC-10, localiza-se a 110 quilômetros da costa do Espírito Santo. Nele se encontram óleos pesados a uma profundidade de até 2 mil metros abaixo do nível do mar. O bloco possui uma área de 270 quilômetros quadrados. O FPSO Espírito Santo foi construído em Cingapura e parte de seus componentes foram fabricados no Rio de Janeiro. Cerca de cem empregados trabalham no navio.

A Shell é a operadora com 50% do Parque das Conchas, que tem a Petrobras (35%) e a ONGC (15%) como parceiras. No total, a Shell possui dez áreas de concessão offshore no País. Atualmente, são três blocos em exploração na Bacia de Santos; um na região de Campos (RJ) e outros três no Espírito Santo.

Há um poço em desenvolvimento (pré-produção) em Santos e dois campos que já produzem: Bijupirá e Salema (Campos) e Parque das Conchas (ES). Além disso, a empresa tem cinco campos em terra, na região da Bacia de São Francisco. A empresa possui 96 anos de atuação no Brasil.

COMPENSAçãO. O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, admitiu ontem a possibilidade de haver maior compensação para os estados produtores de petróleo em relação aos royalties do pré-sal. A decisão sobre o sistema de partilha, porém, só será divulgada hoje. Outra possibilidade que estava sendo discutida nos últimos dias era a divisão igualitária dos royalties entre todos os estados.(Fonte: Jornal do Commercio/RJ/LUCAS VETTORAZZO)