Damasco – A Síria pretende realizar investimentos de US$ 50 bilhões em infraestrutura nos próximos cinco a dez anos e quer a presença de empresas brasileira nesse processo. Queremos que vocês tenham uma grande participação nisso, disse o vice-primeiro-ministro para Assuntos Econômico do país, Abdullah Dardari, ao presidente da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Salim Taufic Schahin, durante reunião nesta quinta-feira (23) em Damasco.
Dardari é o principal responsável por levar adiante o processo de abertura econômica da Síria. Ele afirmou que o país precisa de investimentos pesados em geração de energia, rodovias, ferrovias, portos, aeroportos e saneamento.
O vice-primeiro-ministro citou, por exemplo, a necessidade de instalação de 200 novas estações de tratamento de água, mil quilômetros de estradas, reforma de portos antigos e construção de novos, a ampliação do Aeroporto de Damasco, a criação de quatro novas cidades industriais, além das quatro já existentes, e de dois parques tecnológicos voltados à área de informática.
Ele sugeriu a Schahin, que estava acompanhado do embaixador brasileiro em Damasco, Edigard Casciano, e do diretor da Câmara Árabe, Sami Roumieh, a realização de uma reunião entre empresas sírias e brasileiras voltada à área de infraestrutura. “O potencial é tremendo para trabalhar com empresas do Brasil”, declarou.
Nesse sentido, ele afirmou que poderia ir ao Brasil no início do próximo ano com uma delegação de empresários e membros do governo. A organização de uma missão comercial síria ao Brasil já havia sido proposta por Schahin, na quarta-feira, ao presidente da Federação das Câmaras de Comércio da Síria, Mohammad Ghassan Al-Qalla.
Dardari destacou que seria importante a presença de pelo menos um banco brasileiro no mercado sírio, para atuar no financiamento de projetos que tenham participação de companhias do Brasil, além do comércio bilateral. Há três anos a Síria abriu o setor bancário à participação privada e estrangeira, e hoje as instituições locais podem ter até 60% de capital externo e 40% local.
Como fez o primeiro-ministro, Mohammad Naji Otri, em encontro com Schahin na quarta-feira, Dardari falou também sobre as necessidades de seu país na área agrícola. Ele ressaltou que até 2030 a população da Síria, hoje na casa de 20 milhões de pessoas, deve dobrar, sendo que a área plantada deverá crescer apenas 1,5%.
O aumento da produtividade é a única maneira de alimentar o país, ressaltou. “Precisamos de tecnologia”, acrescentou. Schahin já havia dito a Otri que a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) desenvolveu com sucesso sementes e técnicas agrícolas adaptadas ao semi-árido do Brasil, conhecimento que pode ser compartilhado com a Síria. A Embrapa mantém hoje, por exemplo, projetos de cooperação na África.
Social
Dardari disse também que o processo de reforma institucional do país vai entrar numa segunda fase, com metas a serem cumpridas de 2011 a 2015. Esse novo capítulo, segundo ele, vai incluir a ampliação dos investimentos na área social, e o governo sírio tem interesse nos programas brasileiros de redução da pobreza e combate à fome. “A Síria precisa muito desse enfoque. Temos que ser bons na economia, mas também no social”, afirmou.
Ele acrescentou que o país precisa construir novos hospitais e Schahin sugeriu a realização de intercâmbio na área médica, especialmente por meio do Hospital Sírio-Libanês, de São Paulo, mantido pela comunidade de origem árabe e considerado um dos melhores do Brasil, além da cooperação entre universidades.
Schahin está na Síria para formular uma agenda de ações a serem tomadas pela Câmara Árabe, órgãos públicos e privados, para fomentar o relacionamento bilateral. Dardari sugeriu a criação de metas nas áreas social, de investimentos, de comércio e financiamento, turismo e cultural, para serem cumpridas até o final de 2010. Ele propôs também a realização de eventos empresariais em conjunto com atividades culturais. “A cultura agrega muito valor para nós”, declarou.
Schahin tem especial interesse na difusão da cultura árabe no Brasil e tem conversado sobre o tema em todas as reuniões mantidas até agora na Síria. Um dos projetos que ele quer ver realizado é a criação de uma Casa da Cultura Árabe em São Paulo. Nesta quinta-feira ele falou sobre o assunto com Dardari, com o ministro do Turismo, Saadallah Agha Al-Qalaa, e o vice-ministro das Relações Exteriores, Ghiath Ibrahim.
Schahin voltou ainda a reafirmar o convite do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que o presidente sírio, Bashar Al-Assad, visite o Brasil. Lula esteve na Síria em 2003. Segundo Ibrahim, Assad manifestou a vontade de ir ainda este ano. Além do Brasil, ele quer viajar à Argentina, Venezuela e Cuba. (ANBA (Agência de Notícias Brasil-Árabe) – 23/7/2009 )