Não resta a menor dúvida de que o Governo Dilma não tem o mesmo entusiasmo de Lula, tanto em geral como em relação à construção naval. Lula anunciava planos e projetos por impulso, sem se ater muito a questões orçamentárias. Já Dilma, embora comprometida com os ousadíssimos planos da construção naval – intimamente ligados ao conteúdo nacional na produção de navios e plataformas para o pré-sal – adota postura mais comedida. E, além do mais, em dez meses de gestão, Dilma afastou cinco ministros por suspeita de corrupção. No caso do Fundo de Marinha Mercante (FMM), vinculado ao Ministério dos Transportes, o próprio ministério passa por uma reforma administrativa, o que atrasa aprovações. Tudo isso emperra a máquina federal.
Nesse clima, a reunião do Conselho Diretor do Fundo de Marinha Mercante da última semana se limitou a aprovar projetos que estavam em exame desde o encontro realizado no início do ano. Mesmo assim, o volume aprovado é significativo, chegando a R$ 1,4 bilhão. Foram dois navios para a Elcano, quatro para a Pan Coast e sete para a King Fish, no valor total de US$ 840 milhões (R$ 1,4 bilhão). A Elcano está comprando dois graneleiros para seu serviço normal e os demais são petroleiros do sistema EBN – Empresa Brasileira de Navegação, modelo em que os armadores fazem as encomendas após obterem contrato para prestar serviços à Petrobras por 15 anos.
É interessante notar que as três empresas que estão fazendo investimentos são companhias brasileiras de capital estrangeiro. Como a estatal Transpetro já encomendou 49 navios – e promete ordenar mais 20, no chamado Promef III, vê-se que uma estatal e o capital estrangeiro – embora em empresas legalmente sediadas no país – lideram em contratos com estaleiros. Foi marcada nova reunião para 24 de novembro, quando, se espera, a equipe do Departamento de Marinha Mercante esteja consolidada e já tenham sido feitos contatos com os ministério da Fazenda e Planejamento para possível liberação de mais recursos para apoio ao fundo.
As projeções do pré-sal incluem 586 barcos de apoio, 97plataformas fixas e 28 navios-sonda. E, de navios, estima-se a construção de 150 unidades, incluindo 49 da Transpetro e 39 do sistema EBN. Inúmeros estaleiros estão sendo anunciados e tudo isso irá implicar o uso total do orçamento do FMM, o que exigirá suporte extra de verba da União. Lula deu apoio sem limites à encomenda de navios e plataformas e ao financiamento a novos estaleiros. Dilma, em tese, manterá a mesma política, mas, pelo que se depreende, a um ritmo mais vagaroso. Espera-se que a licitação de 21 navios-sonda – estimada em US$ 15 bilhões – seja aprovada antes do reveillón.