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Clippings - 01/08/11

Turbinas eólicas chinesas podem marcar presença nos leilões de energia de agosto

Fabricantes do país negociam pré-acordos com geradores; preços atraem, mas financiamento aparece como entrave.

Os leilões de energia A-3 e de reserva marcados para daqui a três semanas podem estabelecer um novo momento para o mercado de energia eólica no País. Os fabricantes chineses, sempre lembrados pelo grande poder de competitividade, aterrissam em solo brasileiro em passos cada vez mais firmes, a ponto de estarem bastante próximos de agarrar novos projetos no Brasil. Tanto que a Eletrosul, que tem se destacado pela agressividade no setor, admite a possibilidade real de fechar contratos com fornecedores da China, ao mesmo tempo que autoridades da área confirmam uma grande incidência de parcerias pré-leilão entre geradores locais e fabricantes do outro lado do mundo.

No caso da estatal do grupo Eletrobras, o momento é de análise das condições. Em conversa com o Jornal da Energia nesta quinta-feira (28/07), o assistente da direção de Engenharia, Airton Silveira, afirmou que a companhia está em fase avançadanas negociações e que um representante está indo para a China a fim de levantar alguns detalhes adicionais sobre a viabilidade da contratação. Eles têm o grande diferencial que é a produção em larga escala, o que torna o preço bastante competitivo. Mas somente o preço mais baixo não é suficiente frente à oferta nacional.

O gargalo apontado pelo especialista da Eletrosul diz respeito ao financiamento dos projetos. Na relação com os fabricantes nacionais, temos a vantagem de utilizar o BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social], o que não é possível importando. Então você analisa as propostas ao máximo para ver, no ponto de vista do negócio, se é conveniente fechar com eles. Sem contar com o principal banco fomentador do segmento, haveria então duas saídas para viabilizar o acerto, conforme explica o presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), Ricardo Simões.

A dúvida é: vencendo o leilão, como os chineses irão fazer? Eles têm de nacionalizar as máquinas ou então trazer o financiamento do próprio país, analisa o executivo, que também levanta a questão cambial – as receitas da companhia são em reais, e os empréstimos seriam em moeda chinesa, por exemplo – e o rendimento dos preços combinados com o processo de financiar o pagamento. Será que o entrave do financiamento preserva a competitividade?

De toda forma, Simões admite que a presença da China já é mais forte que no leilão do ano passado. Eles estavam cotando, mas após o resultado do certame não se viu nenhuma vitória de competidor com máquina chinesa. Nesse leilão, já se ouve falar com mais frequência, ressalta. Além disso, o executivo adianta que muitos empreendedores irão para a licitação do mês que vem com memorandos de entendimento junto a fabricantes da China.

Força oriental

Em meio a esses acertos, o ex-presidente da Abeeólica e executivo da Servtec Energia, Lauro Fiúza, também fala sobre o fator da confiança. Ele destaca que o gerador brasileiro teria de entrar no leilão com a certeza de que o fabricante irá se instalar no Brasil e estará alinhado junto ao empréstimo do BNDES ou então que fará o papel de trazer as condições para os empresários brasileiros. Se os chineses vierem com o financiamento, eles participam do leilão sem ter fábrica aqui. Agora, são pouquíssimas companhias que podem ser dar ao luxo de contratar equipamento para um projeto do tamanho de um parque eólico sem financiamento. Então tem saber o que vai acontecer.

Fiúza acrescenta ainda que, na parte tecnológica, a evolução chinesa é fantástica, e que em muito breve as companhias do país serão tão competitivos quanto as gigantes europeias. Segundo ele, são cerca de nove empresas sinalizando com bases no Brasil, conversando com bancos, governo, associações e em condições econômicas suficientes para chegar ao País em condições de alavancar projetos na área.

Sobre as instalações no território brasileiro, Silveira, da Eletrosul, lembra que as empresas que estão sendo avaliadas pela estatal têm em vista o desenvolvimento um parque fabril no Brasil por volta de 2014. Essa chegada – questão de tempo, segundo as fontes ouvidas pela reportagem – é vista com bons olhos pelo especialista no segmento eólico Everaldo Feitosa. O mercado brasileiro é um dos mais fortes do mundo em contratação anual. E a única desvantagem dos chineses, hoje, é o fato de não estarem aqui ainda.

Para Feitosa, que é um dos vice-presidentes da Associação Mundial de Energia Eólica (WWEA, World Wind Energy Association, na sigla em inglês), arcar com o investimento sem o BNDES também é a dúvida que ainda resiste na discussão. Perguntado se considera plausivel uma participação chinesa nos parques que vencerão os leilões de 17 e 18 de agosto, o executivo teve resposta positiva. Sim, desde que resolvam o financiamento.

Economia artificial

O especialista em energia Paulo Ludmer é um questionador do modelo de crescimento chinês. Para ele, é preciso recapitular alguns princípios, já que não se pode dizer que a concorrência da China em muitos níveis seja moral, com o grau de artificialidade da economia do país.

Admitindo uma versão mais conservadora para a questão, Ludmer diz que no atual cenário os produtos chineses vivem um momento de copiar as experiências dos fabricantes mais experientes. Mas ainda não passou um tempo suficiente para haver confiança. Há um risco de gestão em se utilizar das cópias chinesas, apesar dos preços mais baratos. Eu, pessoalmente, ficaria com os modelos nacionais ou os já consagrados.

Fato é que, se a energia eólica no Brasil crescer 1GW por ano – número levado em conta por muitos dos especialistas e aproximado do estimado pelo Plano Decenal de Energia (PDE) – numa média de aerogeradores de 1,5MW, serão necessários mais de 600 novas turbinas anuais no país. E, conforme lembra Ludmer, ao mesmo tempo que a demanda nacional é crescente e convidativa, há um excesso de produção a nivel mundial e os baixos preços chineses. Enfim, nas palavras do consultor, o empreendedor está diante de um buquê de possibilidades. É interessante, e depende do grau de risco que cada um tiver, avalia