Pela primeira vez depois de 13 anos de negociações frustradas entre a Europa e o Mercosul para o estabelecimento de um acordo de livre-comércio, a União Europeia dá sinais públicos de que estaria disposta a negociar um acordo individualmente com o Brasil ou com outros países do Mercosul, e não necessariamente com todo o bloco.
Em declarações a jornalistas brasileiros em Genebra, o comissário de Comércio da Europa, Karel de Gucht, indicou que não cabe à UE decidir de que forma os sul-americanos negociariam e que essa decisão deve ficar com o Mercosul. Mas não rejeitou a opção por uma negociação isolada com o Brasil.
O Mercosul é nosso interlocutor e cabe ao Mercosul decidir como negociar conosco, disse o comissário europeu.
Questionado se a opção de negociar um acordo bilateral com o Brasil interessava à UE, o comissário foi diplomático. Eu dei a resposta que queria dar. Nem mais nem menos.
No setor privado, a declaração do comissário foi interpretada como uma indicação de que, se o Brasil aparecer para negociar sozinho, terá em Bruxelas interlocutores dispostos a conduzir um novo diálogo.
Os europeus não escondem o interesse por um acordo com o Brasil diante do potencial que a queda de tarifas daria para as exportações da UE, principalmente com a demanda doméstica na Europa enfraquecida por contada crise.
Em 2000, as negociações para a criação de uma zona de livre-comércio entre os dois blocos foram lançadas. Mas o projeto
pouco avançou. Do lado europeu, a queixa era de que os sul-americanos não estavam dando acesso suficiente para a entrada de bens industriais europeus. Do lado do Mercosul, o problema é que, desde então, a Europa proliferou acordos comerciais com vários outros parceiros comerciais, o que começou a afetar os interesses de exportadores brasileiros. Alguns deles – os maiores – optaram até mesmo por se instalar na UE.
Os exportadores brasileiros temem que o acordo entre UE e Mercosul não saia do papel pela posição protecionista do governo da Argentina que não quer ouvir falar em liberalização comercial neste momento.
Autonomia. Cansados de esperar, alguns setores já procuraram o governo para pressionar por um acordo bilateral. O governo brasileiro sempre rejeitou essa opção, já que significaria na prática o último prego sobre o caixão do Mercosul – questionado domesticamente e ainda sem implementar uma livre circulação total de bens entre seus membros.
Se politicamente o Brasil se vê preso aos interesses também dos parceiros do Mercosul, o setor comercial insiste que as ambições nacionais de exportação e de presença no mundo não podem ficar atreladas ao posicionamento da Argentina.