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Clippings - 01/08/13

US$ 2 bilhões para explorar, sem destruir

A estrada em meio à floresta amazônica termina em uma enorme pilha de rocha vermelha, cartão de visitas da mina de Carajás, maior produtora de minério de ferro do mundo. A partir daí, a paisagem verde e fechada da mata dá lugar a um cenário poeirento, de montanhas alaranjadas e tráfego intenso de veículos pesados. O contraste explica a dificuldade cada vez maior para licenciar empreendimentos desse porte em áreas de floresta, que custou à Vale quase dez anos e US$ 2 bilhões de investimento extra para obter autorização para expandir a exploração na Serra dos Carajás.

O projeto de expansão prevê uma mina de mesmo porte em área preservada 80 km ao Sul de Carajás, em região conhecida como Serra Sul. A empresa vem se esforçando para comprovar que o empreendimento, batizado de S11D, é um exemplo de que, com tecnologia, é possível exercer a atividade de mineração com menos impacto ambiental do que os projetos iniciados em décadas anteriores, quando as exigências para preservação do meio ambiente eram menores.

Na Floresta Nacional de Carajás, a área em produção hoje corresponde a 3%dos 400 mil hectares protegidos. Apenas na Serra Sul de Carajás, há outros 44 corpos minerais identificados, além do S11D. E, em exploração, há outras duas jazidas de minério de ferro no Complexo Carajás e uma jazida de cobre e níquel a oeste, chamada Itabahiana-Alemão. O projeto S11D, que tem reservas estimadas em 4,2 bilhões de toneladas e 9 quilômetros de extensão, é uma fração de um dos 45 corpos minerais identificados na cordilheira Sul da Serra dos Carajás: o corpo mineral S11 é o maior da região, com 30 quilômetros de extensão e 10 bilhões de toneladas de minério estimadas.

O investimento projetado é de US$ 19,5 bilhões. Devido às exigências ambientais cada vez mais restritivas, apenas o desenvolvimento da engenharia para a exploração da jazida levou cinco anos,coma participação de três empresas estrangeiras especializadas em operações em áreas hostis.E o Estudo de Impacto Ambiental foi enviado ao Instituto Nacional do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em 2009, já com uma série de modificações com relação ao projeto original. Com produção estimada em 90 milhões de toneladas por ano, será usada tecnologia inédita de peneiramento a seco do minério, que será transportado em uma correia de 9 quilômetros até a usina de beneficiamento, fora da Floresta Nacional.

Ao contrário de Carajás, onde a Vale extrai 100 milhões de toneladas por ano, o sistema não envolve o uso de grandes caminhões. Semas alterações feitas nos últimos anos, que eliminaram a barragem de rejeitos e reduziram o consumo de água e o uso de caminhões, o projeto não teria sido aprovado, admite o diretor de Projetos Ferrosos Norte da Vale, Jamil Sebe. “Queremos que esta mina seja uma prova de que é possível explorar minério na Amazônia”, afirmou o executivo, para quem o modelo pode viabilizar novas jazidas em áreas sensíveis. Os US$ 2 bilhões a mais gastos na mitigação dos impactos foram destinados ao sistema de peneiragem a seco e transporte do minério por correia, que reduzem a área desmatada.

Mesmo assim, 1,1 mil hectares de vegetação serão suprimidos para a construção da mina e do sistema de transporte do minério até a usina. Como compensação, o Ibama determinou que a mineradora invista na observação de uma área de 2,7 mil hectares (o equivalente a toda a ocupada pelo projeto) na Serrada Bocaina, vizinha à Floresta Nacional dos Carajás, instituída em 1985,mesmo ano do ínicio da operação do projeto. Os impactos de uma atividade desse porte, porém, não se limitam ao desmatamento.

O crescimento desordenado, provocado pela migração de trabalhadores, costuma acompanhar grandes investimentos no interior do país. Hoje, 1,8 mil trabalhadores vivem nos alojamentos construídos pela Vale em Canía dos Carajás. No pico das obras de implantação, serão 9 mil migrantes para uma cidade que possui cerca de 20 mil habitantes. Durante as operações da mina, 2,2 mil pessoas trabalharão no projeto.

A Vale diz que vem atuando em conjunto com a prefeitura e com ONGs para mitigar os impactos, seja coma capacitação de moradores, seja com programas para evitar problemas sociais,além de medir indicadores de qualidade de vida antes e depois da implantação, para acompanhar os efeitos do empreendimento.

Quando iniciou o projeto em Carajás, na década de 80, a empresa, ainda estatal, construiu um núcleo urbano no meio da floresta, onde hoje vivem 5 mil pessoas. “Eram outros tempos. Na época se fazia tudo por decreto”, resume Sebe.