Siderurgia: Decisão faz parte da estratégia de direcionar investimentos para produtos com maior valor agregado
Ivo Ribeiro e César Felício, de Belo Horizonte
Katia Lombardi/Valor
Castello Branco, presidente: O valor agregado diminui a facilidade com que o usuário pode substituir a Usiminas por importações
A Usiminas começa a entrar no mercado de equipamentos e componentes para a indústria naval e petrolífera, dentro da estratégia de direcionar seu investimento nos próximos anos em produtos de alto valor agregado, em detrimento de semi-acabados, como placas de aço. A empresa anuncia hoje um investimento na construção de um complexo industrial em Cubatão (SP) para atender encomendas de fabricantes de plataformas de exploração do pré-sal e de estaleiros navais.
Ao todo, serão três unidades fabris. A principal, em conjunto com a Promon Engenharia, empresa de São Paulo, será uma fábrica de módulos para plataformas de petróleo, cujo cliente alvo é a Petrobras. Também serão construídas duas outras unidades – uma de blocos e outra de estruturas metálicas para a indústria naval. A empresa não quis divulgar o total a ser investido, mas apenas na produção de módulos serão aplicados em torno de US$ 200 milhões.
A Usiminas deverá começar a atender encomendas em meados de 2011. Um módulo consumirá 2,5 mil toneladas de aço e demorará 18 meses para ser entregue. A fábrica da Usiminas poderá produzir 18 módulos simultaneamente. O complexo, que ficará dentro do site da usina de aço de Cubatão, ao lado do terminal portuário, em plena capacidade, consumirá de 120 mil a 150 mil toneladas anuais de chapas e bobinas de aço produzidas localmente e em Ipatinga (MG).
Da usina mineira virão chapas grossas produzidas com elevado grau de resistência para perfurações de petróleo em campos ultraprofundos. A empresa está investindo em ampliação da capacidade e terá um adicional de cerca de 350 mil toneladas desse produto em 2011.
Hoje, 24% do aço que produzimos e que é vendido no mercado interno recebem agregação de valor. Nossa meta, com estes e outros investimentos, é elevar este percentual para 50% até 2015, afirmou o presidente da empresa, Marco Antonio Castello Branco. O valor agregado diminui a facilidade com que o usuário pode substituir a Usiminas por importações. E o mercado de material semi-acabado está saturado, afirmou o executivo. O mercado interno atualmente responde por cerca de 70% das vendas da Usiminas e o externo, 30%. A empresa deverá comercializar este ano cerca de 6 milhões de toneladas, com queda de quase 20% comparado com 2008. A capacidade total de produção de aço bruto da Usiminas é de 9,5 milhões de toneladas.
De acordo com Castello Branco, o Brasil tem atualmente uma capacidade de produção de cerca de 43 milhões de toneladas de aço, ante um consumo da ordem de 18 milhões de toneladas. Isso faz com que a produção nacional dependa de exportações, em grande parte de material semi-acabado (placas e tarugos) em um momento em que o principal produtor e consumidor mundial, a China, contará ao fim do ano com um excedente de capacidade próximo a 200 milhões de toneladas.
O cenário para os próximos anos é ainda mais desalentador no mercado de baixo valor agregado, uma vez que novos atores devem ingressar na produção, como a usina da ThyssenKrupp CSA, no Rio de Janeiro, e futuramente a Vale, com mais três usinas anunciadas. A Usiminas conta com os investimentos em infraestrutura para a realização da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro em 2016 como atenuadores.
A empresa só deverá descongelar seu investimento na produção de semi-acabados se sentir que os ambiciosos projetos de infraestrutura serão realizados no país. A Usiminas está com um alto-forno parado, sem data prevista para reativação, e mantém em banho-maria a construção de uma usina em Santana do Paraíso (MG), empreendimento de mais US$ 5 bilhões para fazer 5 milhões de toneladas por ano de placas, em duas etapas. Vamos fazer, mas somente quando o mercado doméstico tiver condições de absorver pelo menos 80% da produção na forma de aço acabado – chapas grossas e laminados a quente e a frio. O executivo disse que não pode ficar exposto ao mercado internacional. É um grande risco.
A Petrobras é a principal razão de ser dessa nova investida da Usiminas na indústria naval e de offshore. Além do projeto em Cubatão, a Usiminas deverá ainda montar um Centro de Pesquisas em Aço no Rio. Deverá ser erguido ao lado do Centro de Pesquisas da Petrobras, na ilha do Fundão, na capital, para o desenvolvimento de tecnologia de produtos da indústria petrolífera. Ela investirá nessa empreitada um total entre R$ 12 milhões e R$ 15 milhões.
Também vinculado ao crescimento da Usiminas Mecânica é o investimento orçado em R$ 45 milhões para aumentar sua capacidade na fundição e forja de peças com até 70 toneladas de peso. Com a reestruturação da subsidiária, comandada por Guilherme Muylaert, foram montadas na empresa duas superintendências: uma voltada para sua expansão no setor petróleo e de gás e outra para o negócio siderúrgico, como a montagem das várias etapas de uma usina de aço.
Os novos investimentos na Usiminas Mecânica, segundo Muylaert, diretor-superintendente da companhia, vão fazer com que a empresa realize a construção de empreendimentos no sistema turn-key. A ideia é vendermos a solução completa, envolvendo desde a construção civil de uma obra até a montagem completa de equipamentos, como aciaria de uma siderúrgica, disse o executivo.
A estratégia da Usiminas é até 2015 triplicar o faturamento da subsidiária, que no ano passado obteve R$ 1,2 bilhão, em torno de 8% da receita líquida total do grupo, que entre janeiro e setembro deste ano alcançou R$ 7,94 bilhões. Essa é a meta que passo ao Muylaert, informou Castello Branco. Ele quer também que a empresa conserve margem do resultado operacional em torno de 20%, uma referência para o setor de bens de capital. A Usiminas Mecânica, atualmente, atua em cinco segmentos de negócios. Dois novos vêm se juntar a eles.